A proposta do presente estudo é analisar como a alimentação e a gastronomia foram frequentemente fonte de debate entre as escolas dos períodos da Primavera Outono (770-453 a.C.) e dos Reinos Combatentes (453-221 a.C.). O objetivo é demonstrar que na China o interesse pela alimentação ia além do conceito de subsistência, desempenhando um papel de destaque na vida cultural, social e política desta civilização. Este artigo analisará fontes históricas do período como as obras: Os Analectos de Confúcio, o Mengzi de Mêncio, o Neipian de Zhuangzi, o Daodejing de Laozi e o anônimo Livro dos Ritos, Liji (anônimo). Para se chegar ao objetivo proposto são necessários: 1) compreender a função da alimentação na formação do conceito de identidade dos han e na simbologia do Estado chinês; 2) demonstrar que diferentes escolas filosóficas do pensamento político chinês viam a alimentação como uma ferramenta eficaz para garantir legitimidade ao poder político; 3) afirmar a existência de uma alta cultura gastronômica que transcendeu a subsistência básica e foi ritualizada e normatizada; 4) certificar que a alimentação era um pressuposto básico da conduta moral que visava o autodesenvolvimento do indivíduo e a harmonia social; 5) discutir o impacto da recorrência de anedotas sobre cozinheiros-conselheiros na literatura chinesa. Conclui-se que o interesse pela alimentação ia além do conceito de subsistência, desempenhando um papel de destaque na vida cultural, social e política da civilização chinesa. A alimentação foi um objeto e um agente fundamental para a construção da identidade han e dos fundamentos do Estado chinês.