Após um período de crescimento, os anos 90 marcam uma estagnação econômica no Japão, que potencializou duas formas de pensamento existentes: os revisionistas, que idealizavam uma sociedade pré-influência estadunidense, e os reformistas, que buscavam o estabelecimento de medidas neoliberais no país. Mesmo aparentemente antagônicas, as duas formas de pensamento se retroalimentavam. O presente artigo tem como objetivo analisar a animação Memórias de Ontem, lançada em 1991 sob a direção de Isao Takahata, suas representações e inserção no contexto supracitado. A partir da metodologia de análise fílmica atrelando as propostas de Vanoye e Goliot-Lete, David Bordwell e Kristin Thompson, com o paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, e utilizando como principais aportes teóricos os conceitos de apropriação, estratégia e tática segundo Michel de Certeau, identificou-se que Memórias de Ontem se apropria de elementos defendidos por revisionistas, principalmente no que diz respeito à idealização do campo e da vida rural, para agir taticamente criticando o modelo neoliberal, sobretudo no que tange às relações de trabalho e às políticas ambientais.