Este escrito apresenta uma discussão teórica sobre o fazer etnográfico nas artes marciais chinesas, tomando como caso o modo como trabalhamos as narrativas que colhemos ao longo de um trabalho de campo. Partindo da minha condição de artista marcial e etnógrafo, introduzo a problemática das narrativas de origem das artes marciais como disparador da discussão central do texto: a posicionalidade do etnógrafo frente às pessoas com quem aprende, evidenciando a integração entre problemas éticos e teórico-metodológicos na produção de conhecimento nas e das artes marciais chinesas. O argumento, explicitado paulatinamente ao longo do texto, sustenta ser possível habitar alternadamente a contradição, desde que nos atentemos eticamente aos efeitos dos encontros que tecemos como artistas marciais e/ou pesquisadores. Para tanto, mobilizo contribuições teóricas da antropologia contemporânea - especialmente de Douglas Farrer, Mylene Mizrahi, Tim Ingold, Martin Holbraad, Morten Axel Pedersen, Tony E. Adams, Stacy Holman Jones e Carolyn Ellis-, de modo a distinguir etnografia, autoetnografia e etnografia em performance. Tais distinções permitem o avanço do argumento, ao qual integro as contribuições de Silvia Rivera Cusicanqui e sua epistemologia ch’ixi, como perspectiva criativa para lidar com dilemas da pesquisa em arte marcial chinesa. Em conclusão, explicito um ponto crítico inerente ao meu argumento principal, numa proposta que toma a própria epistemologia ch’ixi por vias de uma dialética à moda chinesa.