O artigo objetiva apresentar como ao longo das décadas de 1970 e 1980 o budismo foi apropriado por indivíduos pertencentes às camadas médias e baixas brasileiras. O recorte histórico refere-se aos anos de 1977 a 1980, quando esses indivíduos escreveram cartas como forma de solicitar esclarecimentos a Eduardo Basto de Albuquerque, monge e historiador que publicava semanalmente a coluna Budismo no jornal Notícias Populares. A presença de uma religião como o budismo em tal jornal possibilitou a interação dos leitores com elementos do Zen budismo levando à elaboração de novas indagações e relações com os elementos dessa crença. Do ponto de vista metodológico, as missivas são analisadas como possibilidade de investigação do privado e da vida dos homens comuns (GOMES, 2004), enquanto teoricamente utilizamos o conceito de capital religioso (BOURDIEU, 2005) para discutir a posição de autoridade na lide com o sagrado desempenhada por Albuquerque. Espera-se demonstrar que por meio da análise das cartas é possível perceber interesses ainda não discutidos pela historiografia em relação ao budismo, principalmente, para a presença do Zen budismo entre setores de classe média baixa que liam o Notícias Populares e escreveram realizando conexões a partir de seus repertórios religiosos, isto é, sugere-se a hipótese de que a construção de um budismo brasileiro pode ser mais profunda do que se tem apontado pela historiografia.